segunda-feira, 18 de junho de 2007

The obscured face of Pink Floyd




É praticamente incontestável que “Dark Side Of The Moon” é o melhor disco do Pink Floyd. Junto com os também excelentes “Wish You Were Here” e “The Wall”, o álbum tem o que Roger Waters chama de “empatia”, e que eu gosto de chamar de “não-comunicação”. Não que os álbuns não comunicam, muito pelo contrário, mas o isolamento do autor em seu mundo próprio permeia os personagens de seu mundo de sonhos e imagens num formato que a todos emociona.


Bem, mas não estou aqui para falar de nenhum desses álbuns, nem da inspiração-obsessão de Waters, mas de dois discos e um filme do Pink Floyd que pouca gente dá importância, mas que são fundamentais para explicar como o baixista e a banda chegaram até “Dark Side”_ falo de “Meddle” (o melhor álbum do Pink Floyd depois “Piper At The Gates of Dawn” e antes de “Dark Side”), do filme “Live at Pompeii”, de Adrian Maben, e “Obscured by Clouds”, trilha sonora do filme “La Vallée”, de Barbet Schroeder, lançados num intervalo menor de dois anos, entre 1971 e 1972.


Portadores das coleções de canções acústicas mais lindas do Floyd e de perfomances musicais acachapantes, os dois álbuns e o filme delineiam o que seria a banda dali para a frente. Os três trabalhos também marcam o fim, na minha visão, do Floyd como banda de camaradas e o início do grupo mega-ultra-profissional, peça fundamental do show-business dos 70/80.


Primeiro: as vozes do guitarrista David Gilmour e do tecladista Richard Wright soam como uma só. Só depois de ver “Live at Pompeii” que eu descobri que “Echoes” era um dueto e não uma canção com overdubbing da voz de Gilmour. Segundo, basta olhar os créditos e sacar a variedade de parcerias que rolavam nesta fase da banda.


Em Obscured, há duas faixas instrumentais assinadas por toda a banda, três músicas assinadas por Waters e Gilmour, duas de Waters e Wright, uma de Wright e Gilmour, e uma solo de Waters, outra de Gilmour. Em Meddle não é diferente: há duas parcerias de Waters e Gilmour, uma solo de Waters e três músicas da banda toda.


Ou seja, todos finalmente buscavam um objetivo mais claro de trabalho e, nessa busca, levavam o Pink Floyd do desamparo causado pela perda de seu líder, percebido no excessivo experimentalismo entre “Saucerful of Secrets” (1968) e “Atom Heart Mother” (o disco da Vaca) (1970), ao mega-estrelato alcançado em Dark Side. A banda deixava de exibir picos qualitativos ocasionais, saindo do esquema das grandes orquestrações, para grandes canções de uma banda com quatro músicos.


Além das óbvias “One Of These Days” e “Echoes”, que poderíamos chamar de hits de Meddle, esse álbum tem, para mim, duas das mais lindas canções do Floyd: a campestre “A Pillow of Winds”, cheia de camadas e pequenos detalhes de gravação, em especial os efeitos na guitarra de Gilmour, e “Fearless”, que tem direito à torcida do Liverpool cantando “You´ll Never Walk Alone”.


Já Obscured tem quatro das minhas baladas preferidas do Floyd: “Burning Bridges”, “The Gold It´s In The...”, “Wot´s... uh the deal” e “Stay”, que tem o melhor vocal gravado por Rick Wright no Pink Floyd ever.


“Obscured...” tem ainda o alt country rock “Free Four”, quando esse rótulo sequer existia. A música já fala no tema da morte do pai de Waters: “I´m a dead man´s son” canta o baixista, antecipando a “empatia” de “Dark Side” e “The Wall”. Infelizmente, porém, é um álbum subestimado e poucos críticos fazem esse link, visível também no hard blues “Childhood´s End”, cheia de maneirismos de guitarra que seriam repetidos a exaustão por Gilmour no futuro. No DVD Clássicos do Rock sobre o “Dark Side”, por exemplo, “Obscured...” sequer é mencionado.


“Live at Pompeii” foi ousado em 1971 ao colocar a banda num teatro romano vazio, onde o som do Floyd soa incrível. Tem o mérito de registrar como era essa fase do Floyd ao vivo e o fim da fase orquestral para a de uma banda que consegui executar o que compunha. E olha que filmar o Floyd não foi fácil, foram apenas três dias de filmagem, segundo Maben relata numa entrevista nos extras do DVD, tanto que parte das canções teve que ser filmada depois num estúdio em Paris.


Por tudo isso, Pink Floyd continua me encantando e não é a toa que de vez eu sempre me pego escutando esses discos.


Other Stuff: CDs da tiragem remasterizada lançada em 1992 e que aportou no Brasil em 1994. Completos, tiveram os encartes originais repaginados, incluindo todas as letras. O DVD, lançado como a “versão do diretor”, tem excelentes extras, inclusive a versão original do filme, lançado em 1971, melhor que a nova, cheia de computações gráficas descartáveis.


Cotações:

Meddle (1971) - ****1/2

Pink Floyd Live at Pompeii – original – (1971) - ****1/2

versão do diretor – (2003) - **1/2

Obscured by Clouds (1972) - ****


7 comentários:

Unknown disse...

Agora danou-se. É texto pra mais de metro, e vc genialmente conseguiu sintetizar muito bem em sua resenha. É engraçado. Quando a gente começou a "amar" o som do PF, nos sentiamos ofendidos quando alguem chegava e falava que só gostava do Dark Side pra tráz, embora o Silvio gostasse de 75 pra tráz, mas a fila anda, e a gente vai sacando que The Wall não é tanto ÃO assim, que Final Cut não é nem "inho", e que o que vem depois não é PF, embora apresente bons momentos. Hoje, passadas pelo menos 20 primaveras escutando PF, não tenho o menor receio de assinar, que gosto mesmo do Dark Side pra tráz, sem excessões. Animals e Wish... são bons, mas não entram na categoria daqueles que mudaram a face do planeta. Mas pra mim é dificil isolar algum album pré-DS,pois gosto do "bloco" inteiro. Pra mim todos estão no mesmo patamar, ou seja, acertou tudo na prova? É 10, não importando a caligrafia, sacou? Mas mediante as autópsias realizadas por Dc.Zoyd, realmente, Meddle é um assombro. Um dos poucos discos que ainda me arrepiam e me levam a regiões intactas do universo intimo. Acho A pillow of winds lindissima, de um bom gosto extremo. San Tropez tb é outra que me imagino lá, catando pessegos, quando escuto. Sem contar a parte gráfica, outro show a parte. A foto central (um dos motivos que me fez pegar o vinil novamente), é classica, absoluta. Obscured by Clouds, hoje é o disco que mais escuto do PF. Engraçado é que tem discografias que não creditam esse disco ao PF. É verdade, no citado filme (já chego lá), nos extras, discografia, simplesmente pula esse classico. É o melhor disco de transição já lançado por qualquer banda de rock. É delicioso, botar pra rolar, confortavelmente involto a um vinho, e muito, muito incenso. O filme retrata mesmo tudo o que a banda fazia ao vivo até ali, já que em todas biografias, Waters comenta que sempre tocavam as mesmas músicas ao vivo, até ali, excetuando-se algumas suites, como Atom Heart Mother. Som, imagem e enxertos na medida certa, mostrando uma banda ainda coesa, e a caminho de sua maior realização. Fica dificil de comparar com qualquer outra banda, até com os Beatles, já que não considero que eles tenham um ápice definido. Sgt Peppers o é para a critica, mas não enxergo assim. Prefiro a dobradinha Rubber Soul/Revolver, e Help não monstra esse caminho.
Obrigado por me fazer refletir sobre os bons momentos da vida.

Silvio Campos disse...

Por ora vou ser curto e grosso:
Essas resenhas não são vistas em jornal.
Só acrescentaria a importância de Ummagumma (69) por enfrentar um desafio muito sério: estar ao lado de "Freak Out!" (66) do F.Zappa e "White album"(68) dos Beatles. A experiência e criatividade deles quase afastava do convívio jovens como W, G, M and W.
Sgt. e Piper saem praticamente juntos, preparando o que viria depois.
Pra mim Ummagumma pode estar ao lado de Meedle e Pompeii como a "atitude" mais ousada dos caras. abçs

MO disse...

Meus amigos Mauro e Silvio,

Muito obrigado pelos comentários. Os comentários desse blog estão dando um blog a parte. É muito bom usarmos esse espaço para refletir sobre como a música nos afeta. É por isso que eu acho que o maior acerto desse blog é o nome mesmo, porque nenhum jornal vai ter uma resenha de música com esse enfoque.

Obrigado, obrigado, obrigado,

Marcelo

Silvio Campos disse...

Agora nem tão curto, e nem tão grosso:
Resenhas são coisas enfadonhas normalmente escritas por quem não tem conhecimento algum de técnica musical e fica girando em torno de importâncias estéticas e históricas de discos lançados. Quanto mais antigos melhor. O ponto de vista mais distante parece dar uma boa ajuda na análise.
Isso tudo poderia ser exercitado em Veículos de Comunicação com um pouco mais de espontaneidade, e porque não dizer verdade, mas infelizmente o que ocorre na área é o predomínio do jabazinho esperto. Alguém dirá: -Não, isso nunca existiu. Prova aí.
Porém o que vemos nos sebos de discos usados é aquela enxurrada de discos levada pelos próprios profissionais da escrita ou opinião televisiva.
Ganhar discos gratuitamente pra "criticar" já não demonstra uma relação de compromisso com a aprovação?
Bem, "The obscured face of PF (Por Fora)" pode estar contribuindo também com os rapdshares e downloads da vida, impedindo que a molecada tenha o contato sensorial com os discos. Num planeta como o nosso o sensorial ainda faz parte da nossa evolução.
Acredito neste Blog por isso. Quem se expõe aqui pagou grana boa pelos seus disquinhos. rsrs

MO disse...

Silvio,

Concordo em gênero, número e grau com o seu comentário. Como ex-membro da imprensa, já fiz minhas resenhas, tanto por dinheiro, como por prazer. Quando era por dinheiro, era ético o suficiente para não espinafrar (até porque era impossível), mas usava informações históricas e sobre o artista para contextualizar os interessados em sua música. Isso aconteceu muito nos trabalhos que fiz para o site de uma loja-virtual -de-CDs-gravadora. Nos trabalhos que fiz num site, no qual um dos meus trabalhos era fazer a crítica musical dos lançamentos semanalmente, eu pintava e bordava, sem também jamais ser ofensivo (nossa, uma resenha histórica dessa fase foi uma na qual eu detonei com o segundo disco da Britney Spears!!!), até porque sei o trabalho que dá gravar um disco, mesmo quando ele é ruim. Mas hoje não tem mais espaço para crítica assim, é tudo jabá mesmo. Numa Nuvem 9 da vida, aqui em Sampa, sua constatação de vendedor de discos é verdadeira. Nas prateleiras, vê-se um monte de CD carimbado com o indefectível "amostra invendável". Por isso uso esse espaço, para falar dos discos que gosto, apesar de realmente ter uns micos na minha coleção. Aliás, estou pensando em dar uma peneirada na minha estante e fazer uma bela revisão e expurgar aqui o que "não serve pra mim", mas lembrando sempre, que pode servir para outros. Tô pensando em criar uma seção: "micos na estante", só para exercer a crítica ferina...

Silvio Campos disse...

And now!! "The cleared face of PF(Por Fora)"!
Montar um blogzinho é a coisa mais fácil: apenas 3 passos. Pensá-lo com ética e respeito por quem lê é outros 500.
Parabéns Zoyd. E que venha logo a coluna do espinafre. Tenho um Yahoo (Come Upstairs) aqui no meu acervo que precisa ser reouvido e triturado. Depois é só ouvir A pillow of winds que estarei recuperado física e moralmente.

MO disse...

Hahaha... Coluna do espinafre ou a zona do agrião... Tanto faz!!! Um abraço!