sábado, 17 de fevereiro de 2007

Neil Young, After The Gold Rush (1970)


Ouvi esse álbum pela primeira vez na casa do Marcelo Martins (filho do Silvio), um dos cinco responsáveis pela minha educação musical. Os outros foram o Hansen, o Sílvio da Teia, o Mauro e a Bizz. Predominantemente folk/country, “After The Gold Rush” reúne na verdade o melhor dos “dois lados” de Neil Young: o hard-rocker e o cantor folk-country. Gravado 15 meses após “Everybody Knows This Is Nowhere”_ primeiro álbum do artista com a Crazy Horse (Danny Whitten, guitarra; Billy Talbot, baixo, e Ralph Molina, bateria)_, e logo depois da participação dele no supergrupo Crosby, Stills, Nash & Young.

No álbum, Young mistura a coesão da Crazy Horse com seu lado country, devidamente turbinado por outros colaboradores, como Jack Nitszche e o então adolescente Nils Lofgren, ao piano. Em pouco mais de 30 minutos, Neil Young desfila baladas perfeitas, como “Tell Me Why”, a onírica “After The Gold Rush”, as canções de amor “Only Love Can Break Your Heart” e “Don´t Let It Bring You Down”, na qual a banda pára no auge da canção para que só o piano de Lofgren e a voz e o violão de Young encham a sua cabeça de sentimento.

Young interpreta um dos maiores clássicos do country, valorizando cada palavra de “Oh, Lonesome Me”, de Don Gibson (1958), canção que começa com dois dos versos mais tristes da história da música _“Everybody's going out and having fun/ I'm just a fool for staying home and having none”. É, não é só a bunda de cowboy que dói, o coração também.

Mas no meio dessas baladas todas, Young e a Crazy Horse debulham dois rocks geniais, o protesto de “Southern Man”, que em 1974 ganhou uma resposta dos sulistas do Lynyrd Skynyrd, e “When You Dance I Can Really Love”, que traz uma grande verdade_ a música muitas vezes te põe num transe e você, por mais ridículo que isso possa parecer, puxa alguém para dançar, mesmo que não saiba o que fazer com o conjunto formado por cabeça, tronco e membros.
Cotação: *****

Other stuff
CD Europeu. Encarte completo com todas as letras escritas a mão por Young, fotos bem editadas, informações sobre os músicos que tocaram, texto de apresentação, etc.
Cotação: *****

domingo, 11 de fevereiro de 2007

The Beatles, Rubber Soul (1965)


Em 1965, intuitivamente, John, Paul, George e Ringo buscavam novos caminhos para suas carreiras nos Beatles. George e Ringo também queriam ser protagonistas. E John e Paul queriam superar os arquétipos dos primeiros anos da banda: o de que John era o rebelde e Paul, o noivo ideal.

Deu certo. Não é à toa, que o melhor rock do disco é de Paul: “Drive My Car”, e que as melhores baladas são de John: “In My Life”, “Norwegian Wood” e “Girl”. George contribui com duas músicas, a perfeita “If I Needed Someone” e o rock “Think For Yourself”. Ringo, por sua vez, é co-autor da faixa que cantou, o country “What Goes On” e, pasme, toca órgão hammond na belíssima “I´m Looking Through You”, de Paul.

A banda trazia novidades nos arranjos. As faixas não ficavam no clichê rock ou balada, e como já vinha sendo demonstrado desde 1964, o critério básico dos Beatles para incluir uma música num álbum, era ter uma boa canção, preferencialmente com alguma novidade, lírica ou musical. Percebe-se também no álbum a influência americana: Bob Dylan, sobre Lennon, na letra de “Norwegian...”, os Byrds sobre George em “If I Needed...”, cujo riff lembra muito o “The Bells of Rhymney” e ecos de Beach Boys e Byrds nos vocais de quase todas as faixas.

Todos os vocais são em dueto ou em trio, tudo com todas as terças, quintas e oitavas que vocês puderem imaginar. Outra curiosidade: em “Rubber Soul”, George toca cítara pela primeira vez num LP da banda, em “Norwegian...”. E o disco ainda tem “Nowhere Man”, balada com solo de guitarra e vocais sensacionais.
Cotação: *****


Other stuff: O encarte do CD que eu tenho (o primeiro álbum dos Beatles, que eu comprei em CD) edita muito mal o conteúdo original. As fotos, de Robert Freeman, por exemplo, estão pessimamente editadas, parece que foram escaneadas de alguma capa velha. O encarte contém informações completas sobre os arranjos vocais e quem toca os instrumentos diferentes.
Cotação: **1/2

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Morrissey, Viva Hate (1988)



Tenho uma história bacana com esse disco. Uma das primeiras e únicas vezes que ouvi esse disco foi na casa de um amigo "barra-pesada", o Cyrano. Tão barra pesada, que eu o conheci no basquete. Com 14 anos, o cara fumava e bebia e pichava o quarto. Ó! Como pude andar com elementos perigosos como esses e sobreviver?

Éramos eu, Cyrano, André (Morrissey cover) e a mina dele ouvindo o disco no quarto do Cyrano, num dia quente de 1988, janelas baixadas, tudo escuro, fazia uns 40ºC do lado de fora. Eles bebiam e fumavam. Eu só escutava. Marcou. No mesmo dia ouvimos o "Darklands", o "Psychocandy" (ambos do J&MC), e o "Rattle and Hum", cujo filme, deixou Cyrano pirado.

Dezoito anos depois, o vinil caiu nas minhas mãos, dado de presente pelo grande Mauro. E foi legal reouvir aqueles sons. Gravado no final de 1987, logo após o fim dos Smiths, num estúdio de Bath, linda cidade do oeste inglês, onde vivem e gravam Peter Gabriel, Van Morrison e outros fodões dos anos 70/80, o disco era um exercício de auto-afirmação de Morrissey. Tirando o cantor e as letras, tudo que lembrasse Smiths tinha que, praticamente, desaparecer. Tanto que na capa estava lá o próprio cantor, fotografado por Anton Corbjn, e não algum ator-ícone dos anos 50.

Com o apoio do produtor, baixista e compositor Stephen Street, e com Vini Reilly (Durutti Column), que definitivamente não são Johnny Marr, Morrissey conseguiu dar conta do recado. Prova de que os Smiths não poderiam ser lembrados é que nenhuma das quatro músicas que fizeram mais sucesso no disco _"Everyday is Like Sunday", "Late Night. Maudlin Street", "Suedehead" e "The Ordinary Boys"_ tinham o som de guitarra-rítmica forte, o que era a principal característica do som jingle-jangle da banda. “Suedehead” tinha riff e solo de guitarra marcantes.


O disco foi bem, a carreira de Morrissey, mesmo com altos e baixos, é muito superior a de Johnny Marr. Os Smiths nunca estiveram próximos de um retorno caça-níqueis. A vida continua.

Cotação: ***1/2


Other Stuff: LP original, de 1988, com rótulo preto da EMI Parlophone, o mesmo usado nos plays dos Beatles nos relançamentos de 1987. Encarte completo com todas as letras e informações.

Cotação:****

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Bob Dylan, Highway 61 Revisited (1965)

O objetivo desse blog maluco é resenhar todos os CDs e DVDs de música que eu tenho. Decidi começar essa nova obra pelo disco "secular" de Bob Dylan, "Highway 61 Revisited", o famoso álbum de 1965 em que Robert Allen Zimmermann largou o violão e, influenciado pelo rock, resolveu se eletrificar.

Tenho uma história muito longa com esse disco, por isso o escolhi para ser o primeiro do blog. A mais provável que seja a verdadeira é que li sobre ele na Discoteca Básica da Bizz no século passado, depois comprei o vinil e, numa viagem à Europa em 1998, comprei o CD numa loja de Praga, na República Tcheca, custou 399 coroas checas. Bati o carro uma vez ouvindo exatamente este CD. Hehehehe.

Esse texto é especial, nele vou falar um pouco dos objetivos desse blog. Cada resenha terá no máximo 1.000 toques (com espaços), menos essa. Cada texto será acompanhado de uma sub resenha de até 300 toques sobre o material gráfico que acompanha a edição que eu tiver.
Não há muito o que dizer sobre Bob. Com ele, é gostar ou não gostar. E eu costumo gostar muito. Neste álbum, o céu é o limite. Ele não queria saber o que os Randais Julianos americanos iriam dizer sobre seu trabalho. Era chegada a hora de pegar a guitarra.

E o álbum começa com o maior clássico de sua carreira: “Like a Rolling Stone”. Al Kooper entrega a introdução, perfeita, no órgão, e Bob perpetra uma ilustração perfeita da loucura que era Nova York nos sixties, mas ele pode estar falando de qualquer pessoa, de qualquer cidade. O disco segue com a rápida “Tombstone Blues”, que tem um clipe fantástico, muito antes da palavra clipe existir.

E o álbum, com guitarras ou não, transita malandro entre rocks garageiros e rápidos, como “From a Buick 6” e “Highway 61”, até baladas potentes, como "Just Like Tom Thumb´s Blues", “Ballad of Thin Man”, na qual Dylan cria um de seus personagens, o tal Mr. Jones e "Queen Jane Approximately" (minha preferida, com um piano lindo e uma gaita matadora no final).
Cotação: *****

Other Stuff: A edição que eu tenho é européia, produzida na Áustria, a borda da foto da capa é branca, diferente da edição brasileira em vinil (que era de um laranja medonho). Contém a lista dos artistas que tocam com Bob, que inclui Michael Bloomfield na guitarra, e as fotos e o texto de Bob que integravam o encarte original do vinil.
Cotação: *****